Aspetos Metodológicos Genéricos da Observação e Intervenção Psicomotora

15 Dezembro 2017, 11:00 Rui Fernando Roque Martins

- Aspetos Metodológicos Genéricos da Observação (qualitativa e quantitativa) e da Intervenção Psicomotora (incidência relacional vs incidência instrumental).

- A intervenção psicomotora centrada na componente instrumental, e com maior fundamentação de tipo cognitivista e neuro-psicológico, privilegia o desenvolvimento de actividades desenvolvidas sob a forma de situações-problema. Numa pedagogia de sucesso, onde o erro constitui apenas o argumento para um novo questionamento sobre as possibilidades de auto-regulação adaptativa, procura-se estabelecer uma relação entre a criança e a acção, susceptível de romper com os seus bloqueios e resistências e melhorando também a sua autoestima e autoconfiança. A situação-problema apelando à descoberta guiada e ao pensamento divergente deve promover a focalização e manutenção da atenção, favorecendo a diferenciação das fontes de informação disponíveis e a adaptabilidade à variabilidade do envolvimento. Através do envolvimento da linguagem oral, quer na antecipação da actividade, quer na avaliação que deverá ser efectuada após a sua realização, no sentido de comparar o resultado desejado com o obtido, orna-se  possível para a criança situar progressivamente as suas próprias possibilidades em relação às exigências do meio. A linguagem verbal permite a interiorização da experiência imediata e sincrética, e implica um distanciamento da acção através da sua representação, e uma elaboração da experiência vivida e da emoção sentida.Torna-se necessário situar entre o estímulo e a resposta uma fase de mediação cognitiva, que favoreça os processos de análise, integração e elaboração da informação. Uma vez desenvolvida a experimentação sensório-motora , é tempo de aceder à representação, através da transposição perceptiva e simbólica das atitudes ou acções, pelo recurso à palavra, à cor, ao desenho, ao grafismo e à expressão sonora, estimulando a necessidade de organização das representações, em noções fundamentais que vão conduzir ao pensamento categorial e conceptual. 

 

- A Terapia Psicomotora com incidência  Relacional,  constitui uma resposta terapêutica para algumas indicações ligadas a problemas estruturados em fases arcaicas e precoces do desenvolvimento.  Esta perspectiva, leva-nos a questionar a importância da corporalidade nos processos precoces de comunicação, quando esta é mediatizada essencialmente por processos sensoriais de tipo interoceptivo e proprioceptivo. Na realidade, os processos tónico-emocionais de comunicação, impregnados de afectos, desejos e emoções, são o motor para a percepção dos processos internos que constituem nessa fase pré-linguística, a base da estruturação do esquema corporal, assegurando o sentimento de identidade e a possibilidade de distanciação em relação ao objecto maternal.

Neste tipo de indicações, a terapia psicomotora, está centrada nos processos não verbais de  comunicação, privilegiando a relação corporal de base tónico-emocional como suporte terapêutico. Nesta perspectiva, a terapia psicomotora vai proporcionar um espaço e um tempo, no qual as interacções terapêuticas são adaptadas à expressão das necessidades da criança, quer elas se manifestem por recusa de comunicação, agressividade, hiperactividade ou ausência de movimento. Partindo desta reciprocidade, psicomotricista poderá partir da restruturação regressiva dos alicerces do Eu corporal e intrapsíquico, para a progressiva diferenciação e autonomização, através do desenvolvimento de novas possibilidades de comunicação, no plano simbólico, social e cultural.